Economia & Negócios
Crédito não basta: empresários querem diplomacia contra tarifaço dos EUA
Medidas do Plano Brasil Soberano incluem crédito e isenções, mas setor produtivo insiste em negociações comerciais para evitar colapso das exportações

“Crédito e financiamento não resolvem. Para quem já perdeu pedidos, isso só aumenta o endividamento. O governo precisa investir mais em negociação internacional e menos em medidas paliativas.”
A opinião é de Roberto Frey, diretor da Renan Móveis, empresa com mais de 50 anos de história em Fraiburgo, no centro-oeste catarinense. Especializada em móveis de madeira maciça e também reflorestadora, a companhia cresceu exportando para a Europa nos anos 1980 e, depois, consolidou os Estados Unidos como principal destino. Hoje, cerca de 40% de seu volume de vendas depende daquele mercado.
A decisão do governo de Donald Trump de impor um tarifaço de até 50% sobre produtos brasileiros já alterou a rotina da fábrica. Parte dos clientes aceitou pagar mais caro e repassar o custo para o consumidor final, mas outros simplesmente cancelaram pedidos futuros.
“Já reduzimos contratações e diminuímos a produção. Isso se reflete diretamente em empregos, compra de insumos e em toda a economia da cidade”, afirma Frey.
Pequenas e médias em risco
O caso da Renan Móveis não é isolado. Segundo a Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB), cerca de duas mil pequenas e médias exportadoras podem ser afetadas pela sobretaxa, respondendo por US$ 500 milhões em vendas anuais. Muitas delas não terão fôlego para suportar a medida se não houver mudança no cenário.
Em artigo publicado no O Estado de S. Paulo, o presidente da entidade, Alfredo Cotait Neto, alertou para a gravidade da situação.
“Esses empreendedores investiram muito para ampliar o comércio exterior e não podem ficar desassistidos. Se o tarifaço se mantiver, muitos empreendimentos poderão deixar de existir, aumentando o desemprego”, escreveu.
Para Cotait, o caminho é a negociação diplomática, sem recorrer a retaliações que agravariam ainda mais o ambiente econômico. “Negociar faz parte do DNA brasileiro, e não pode ser diferente agora”, defendeu.
As medidas do governo
No dia 13 de agosto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou o Plano Brasil Soberano, tentativa de resposta imediata aos impactos do tarifaço. O pacote reúne ações em três frentes: fortalecimento do setor produtivo, proteção aos trabalhadores e diplomacia comercial.
Entre as medidas estão:
- R$ 30 bilhões em crédito via Fundo Garantidor de Exportações, com prioridade para empresas mais afetadas;
- Prorrogação da suspensão de tributos e aumento da restituição de impostos federais via Reintegra;
- Criação da Câmara Nacional de Acompanhamento do Emprego, para monitorar postos de trabalho;
- Expansão da diplomacia comercial, buscando abrir novos mercados e reduzir a dependência dos EUA.
O governo afirma que o objetivo é preservar empregos e preparar o país para ser mais competitivo em futuras disputas comerciais. Mas, para empresários como Frey, as medidas ainda estão longe de resolver o problema.
“Não é com crédito que vamos manter empregos. O que precisamos é de diálogo e de soluções que realmente garantam mercado para os nossos produtos”, reforça o diretor da Renan Móveis.
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